segunda-feira, dezembro 17, 2012

Da liberdade artística




Nada tenho contra a liberdade artística. Bem pelo contrário. Gosto da ousadia de quem desafia os canônes e reinventa a realidade com as suas cores. Só isso poderia justificar o meu gosto, por exemplo, pela pintura de Dali.

Porém, como em tudo na vida, há liberdades que correm mal. A última com a qual me deparei foi a nova versão da história de Leon Tolstoi, Anna Karenina, por Joe Wright. Esta nova versão do clássico tinha, à partida, tudo para correr bem: ao ser a enésima versão em cinema da história da paixão de Anna por Vronsky, o filme podia permitir-se, de facto, todas as liberdades artísticas que se possam encontrar na paleta da realização. 

No entanto, este Anna Karenina é um tremendo desapontamento. Em tudo o que Joe Wright procurou inovar, falhou. Em tudo o que tentou um golpe de génio, ficou aquém. Não se percebe o porquê de toda a acção se passar num teatro (?) e por momentos temi que a grande obra da literatura fosse transformada num musical de gosto duvidoso. (Para além de eu estar a desenvolver uma embirração crescente com Keira Knightley, que neste filme está, manifestamente, fora de tom). Tudo é exagero (começando pela personagem que dá nome ao filme) e a história é pouco explicada. O realizador parte do pressuposto que todos os que virem o filme leram o livro, mas tal é premissa errada para qualquer tentativa cinematográfica. Para mim, este Anna Karenina é um falhanço absoluto (e talvez por isso não se encontre por entre os nomeados da próxima ronda de prémios que por aí vem).

E ao pensar neste fracasso não posso deixar de o comparar ao Marie Antoinette, o filme de Sofia Coppola sobre a famosa (e infame) Rainha Francesa do mesmo nome, onde a liberdade artística de colocar uns ténis all star no meio do guarda roupa do século XVIII não apenas correu bem como deu, sem dúvida, outra cor à corte francesa, sem perder em credibilidade o que ganhou em bom gosto e ousadia estilística. Onde Marie Antoinette é uma belíssima hipérbole, Anna Karenina é apenas exagero desnecessário e pouco convincente. É pena. Tolstoi merecia melhor.

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